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Na verdade, o Alcorão não cita especificamente o termo "Terra Prometida" (al-Ard al-Maw'udah) de forma direta e explícita como uma promessa a um único povo ou localização geográfica específica. No entanto, contém narrativas que são fundamentais para a compreensão islâmica sobre a terra e a bênção divina, especialmente relacionadas aos profetas que são compartilhados com as tradições judaico-cristãs.

A visão islâmica sobre esse tema é mais ampla e focada na provação, gratidão e conduta correta como condições para habitar e usufruir de uma terra abençoada, não sendo uma promessa incondicional ou eterna a um único grupo étnico.

1. A História dos Profetas e a Terra Abençoada

· O Alcorão frequentemente menciona a "terra abençoada" (al-ard al-mubarakah). O exemplo mais claro está na história do Profeta Moisés (Musa) e do povo de Israel:

  "E [lembra] quando Moisés disse ao seu povo: 'Ó meu povo! Lembrai-vos das mercês de Allah para convosco, quando fez surgir profetas dentre vós e vos designou reis, e concedeu-vos o que não concedera a nenhum dos mundos. Ó meu povo! Entrai na Terra Santa que Allah vos prescreveu, e não retrocedais, porque, então, tornar-vos-eis perdedores'" (Alcorão 5:20-21).

  · Aqui, a "Terra Santa" (geralmente entendida como a região da Palestina/Síria) é descrita como algo que Allah "prescreveu" (kataba) para eles. No entanto, o verso seguinte (5:22-26) relata que, por medo e desobediência, eles se recusaram a entrar, sendo então condenados a vagar por 40 anos.

2. A Condição para a Posse da Terra: Retidão e Justiça

· A posse da terra está condicionada à fé e às boas ações. O Alcorão enfatiza que a bênção é removida quando as pessoas se corrompem:

  "E, com efeito, escrevemos, nos Salmos, depois da Mensagem: 'Certamente, Meus servos íntegros herdarão a terra'" (Alcorão 21:105).

  · Este verso é visto como uma promessa universal: os justos (não um povo específico) são os verdadeiros herdeiros da terra.

  "E Moisés disse a seu povo: 'Implorai o socorro de Allah e pacientai. Por certo, a terra é de Allah: Ele a dá, em herança, a quem quer de Seus servos. E o final feliz é para os piedosos'"** (Alcorão 7:128).

3. A Lição da História: Nenhuma Promessa é Eterna sem Fé

· O Alcorão relata que quando os Filhos de Israel se desviaram e foram corruptos, Allah enviou profetas para adverti-los e, por fim, permitiu que outros povos os dominassem:

  "E dissemos, depois dele, aos Filhos de Israel: 'Habitai a terra; e, quando a promessa da Derradeira Vida chegar, faremos chegar uma multidão variada'"** (Alcorão 17:104).

  · A interpretação comum é que a terra foi dada a eles por um tempo, mas a promessa final pertence a Allah no Dia do Juízo.

4. A Perspectiva Universal do Islã

· No Islã, a verdadeira "terra prometida" é metafórica e escatológica: o Paraíso (Jannah) para os crentes que forem piedosos, independentemente de sua origem.

· A ideia de uma reivindicação terrena exclusiva e perpétua com base em linhagem étnica é estranha ao Alcorão. A ênfase está na comunidade de fé (Ummah) e na justiça.

· A Mesquita Sagrada (em Meca) e a Mesquita Al-Aqsa (em Jerusalém) são terras santas no Islã, mas seu status decorre de eventos proféticos e da orientação divina, não de uma promessa nacionalista.

Resumo dos Princípios Islâmicos:

1. Condicionalidade: A posse de uma terra abençoada está condicionada à obediência a Allah e à prática da justiça.

2. Universalidade: A promessa de herdar a terra é para todos os servos justos de Allah, não para um grupo específico para sempre.

3. Lição Histórica: As narrativas sobre os Filhos de Israel servem como advertência: a desobediência leva à perda da bênção.

4. Foco Escatológico: A "promessa" definitiva é a vida após a morte e a morada eterna no Paraíso.

Portanto, enquanto o Alcorão reconhece a história de uma terra sendo atribuída aos Filhos de Israel como uma prova e uma bênção temporária, não endossa uma doutrina de direito perpétuo e incondicional a uma terra específica baseada apenas em linhagem. A posse da terra, no entendimento islâmico, é um depósito (amanah) que exige retidão e pode ser transferido por Allah conforme Sua sabedoria, sendo a recompensa final e permanente a do Além.